Vagando pela internet, sedenta por novidades para pendurar aqui, encontrei esse texto. Achei legal e ei-lo aqui!!! No site de Custódio (
www.custodio.net), encontrei -além de A Cara - quadrinhos, tiras, charges e outras coisitas legais. Ta aí a dica...
A Cara
A cara é um barato. Sempre ali, entrevista entre os ouvidos, outdoor de nós mesmos, a bandeira da nossa personalidade fincada no alto do corpo. A cara é única - ao contrário da face, que são duas- e por isso mesmo não se deixa bater. Ela está em todo lugar: no caráter, na característica, na carapaça, em Carapicuíba, Caratinguetá e em Caraguatatuba. A cara é uma coisa fora de série, embora sempre acham alguém parecido com a gente em lugares em que nunca demos as caras. A cara é bastante eclética. Pode ser usada tanto no lazer quanto no trabalho, embora neste último ela só vá amarrada. Ao contrário das roupas, a cara costuma estar muito amassada quando saímos pela manhã e vai desamassando no decorrer do dia. Por isso mesmo, a cara é o supremo "prêt-a- porter". Ela pode lhe dar fama, poder, dinheiro e sair estampada na capa da revista Caras, ou pode te levar em cana desenhada nos cartazes de"PROCURA-SE".A cara é sócia da coragem, mas no prejuízo a coragem é a primeira a fugir. É a cara que sustenta a mentira deslavada que contamos, que carrega a vergonhaque às vezes não temos, que leva os tabefes que não soubemos evitar. Seja branca, vermelha, negra ou amarela, todas nascem japonesas, mas vão se definindo ao longo dos anos, ganhando contornos, carregando histórias, declarando nossa idade, nossas origens, adivinhando nosso futuro. Cara é passado e é destino. Dá muito dinheiro aos cirurgiões plásticos e nenhum aos cardiologistas, pois quem vê cara não vê coração. Às vezes, porém, a cara se empolga, se expande, se projeta, ganha altivez, toma espaço subindo rumo aos céus e, quando menos se espera, olha lá- estamos carecas. Grande companheira, de manhã acorda antes mesmo de ficarmos em pé, nos saudando enquanto escovamos os dentes, nos cumprimentando dentro do elevador, nos reconhecendo nos espelhos e vitrines, escutando nossos desabafos no banheiro e chorando junto conosco escondida entre as mãos. Ruga a ruga, será cumplice da nossa decadência, testemunha da nossa fragilidade, solidária com a nossa decrepitude. Até que chega o dia em que, pela janelinha do caixão, a cara nos fará o derradeiro e definitivo ato em nosso nome, crua, digna, fria como uma lápide. Mas aí, então, já não estaremos lá para agradecê-la.